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link do meu novo blog
http://ana-maria-costa.blogspot.com/
opinem eu adoro quando o fazem!
a vossa fã
ana maria costa
Hoje, ligo-lhe do telefone amarelo cheio de cuspo de letras da boca e hálito de quem tanto fala. procuro –a sedenta de novidades porque sei que daquela sua fonte de charcos de águas escondidas nas sombras tem aberturas na língua.
É por isso que lhe ligo!
A Maria da Conceição, é uma moça casadoira que vive por trás das cortinas, tem consigo constantemente o seu telemóvel vermelho de luzes azuis intermitentes, não usa outras máquinas para publicar as suas notícias processa-as interiormente em estranhos maquinismos de usos de carne como ficheiros e arquivos, pulsos de ondas acústicas e uma agulha que pica cada letra e liberta da cor a tinta para a palavra.
Maria tem o coração embrulhado num jornal _Aquele que quero ler, hoje.
Maria lembra-me uma bailarina com olhos doces de cabelo repuxado e amarrado na música de piano que zomba do tempo e todo o tempo é um arrepio quando falo com ela.
Hoje, fala-me de lágrimas -digo-lhe!
Pergunto como está vestida, ela não responde logo, primeiro respira fundo como se algo muito atrasado saltasse dos seus arquivos secretos aqueles que nunca se leram a ninguém! E finalmente decide dizer que está vestida de branco como quando tinha 9 anos e continua sôfrega com voz de nevoeiro e nas pausas de chuva começa a falar da sua infância.
Pelo tema que escolheu para me contar vou ter tempo para limpar as manchas antigas e encardidas do meu telefone.
Não preciso do bloco branco e de canetas para gravar as notícias que vou ouvir de Maria, limito-me a ligar o vídeo e as imagens mudam conforme o que ouço; sem ritmos certos, os meus olhos seguem atentos nos espaços castanhos que, por vezes, param de espanto ou abrem-se como a uma grande boca.
-Fui violada quando tinha 9 anos - disse ela - dormia num quarto com as minhas irmãs mais velhas. mais tarde contaram-me que também elas tiveram a minha idade e os mesmos pesadelos.
-não me faças muitas perguntas, por favor - disse docemente Maria quando me mexi na outra linha.
-julgava ser assim em todos os lares _ depois de uma breve pausa, continua_ sítios, casas, ou como os animais que costumava ver a brincar e a cheirarem-se em liberdade, a copularem nos campos verdes dos fundos da minha casa como os gatos ou como os leões na selva_ eu pensava que a natureza era toda igual só mais tarde soube que não!
Mais uma vez Maria parou de falar!
Aproveito para verificar a bateria do vídeo que agora rola em silêncio a fita de um filme inédito escrito à muitos anos nas paredes do passado.
Com curiosidade de saber o resto do filme e, na demora de Maria que, entretanto, parecia ter tapado o bocal , enrolo os dedos nos caracóis da linha do meu telefone imaginando puxar a voz no telemóvel de Maria.
O meu silêncio espreita a sua voz que não tardou em aparecer com vestígios de ranho mas mais recomposta e não fosse ela uma boa actriz, como tal, arranja-se ao seu papel e entra em cena..
Lentamente e baixinho à terra o som surge desenvolvendo a notícia.
Um dia à noite quando a madrugada beija as árvores e os mochos piam as horas. A puberdade acorda no quarto ao lado, sorrateira e bandida, avança pelo pequeno corredor que separa as diferentes naturezas e passo a passo, flutuam sonhos descalços debaixo dos meus cobertores só os consigo ver pela frincha da persiana onde passa a chama da lua com os sonhos predadores que tocam o meu sexo .
Maria faz outra pausa. Sento-me na cadeira acolchoada onde me arranjo à melhor posição e trinco pipocas dos segundos.
Esperando o final do intervalo, bebo Porto velho no copo da paciência.
Antes -continua Maria - sonhara com fadas azuis sentadas junto aos contentes rios, apanhavam flores para encher as minhas almofadas da cama e eu dormia com os cheiros de rosas sem espinhos.
Antes _eu escovara o cabelo comprido e pretos da minha boneca Úrsula com pentes de olhos.
Antes eu não reparara que por baixo da roupa curta e branca de uma bailarina ouvia-se um corpo, um fruto de pouca pelagem negra com dois gomos vermelhos _ ela era uma menina!
Guardava a minha boneca numa caixinha que pensara ser mágica, porque, de vez em quando, quando eu a abria, ouvia uma música de piano, tão linda que me fazia rodopiar.
Mais um silêncio da Maria mais um arranjo na cadeira e mais uma golada de Porto!
Retoma a voz ao telemóvel fervente e canceroso.
Naquela noite, da caixa de música, em vez da Úrsula , sai um feiticeiro muito feio e despido de batas de meias luas, adorna a cabeça com um chapéu bicudo e cheio de estrelas que reluzem como os seus olhos maléficos. Ele, sem dar gargalhadas, calado no sussurro, devagar acaricia a sua varinha mágica entesada,, para cima e para baixo, à medida que a sua mão aperta os gemidos aos astros do quarto. Tem ao mesmo tempo, no sexo do meu triste sonho a outra mão, com dedos de bruxo nos meus gomos vermelhos , são abertos os portões do pequeno buraco.
grito NÃO.
Durmo ou estou acordada?
Desligo o telefone!
Respiro e penso!
- Ninguém conta histórias como a Maria Conceição.
©Ana Mª Costa
24 de Novembro 2006
Do eco
responde o silêncio
às folhas
das árvores quando
o Outono
levanta
voo!
Ana Mª Costa
que me desculpem os caros confrades por ter retirado este pequeno texto, mas um grande poema, do contexto do poema colectivo "O Pato Grasna no Silêncio do Eco" É que, às vezes, senão muitas vezes, a intertextualidade cria pérolas como esta.
eco, a ninfa que distraía hera, mulher de zeus, para este tecer brincadeiras com as outras ninfas no bosque, aqui, neste poema, intencionalmente ou não, a autora corta, irremediavelmente, o processo ad infinitum típico de uma voz que ecoa numa montanha até se perder do ouvinte primeiro, mas que continua, para sempre, noutras aragens. o verbo responder é o culpado desta situação que pode parecer insólita, retomada pelo outono que levanta voo. o outono é outro eco que se liga ao primeiro, na atitude dialógica do poema.
josé félix
Muito obrigado Félix!
jinhos
Ana
Hoje
Hoje visto os meus olhos de castanho a condizer com a pele da terra
Hoje visto a minha boca de rosa a condizer com a minha roupa interior
Hoje visto ao meu cabelo o cheiro de rua a condizer com o perfume dos meus passos
Hoje visto nas minhas mãos o passado e nos bolsos da vida escondo detritos secos
Hoje visto nos dedos anéis de madeira que reluzem a ouro
Hoje escrevo a branco o que condiz a um fundo de cor diferente!
Ana Mª Costa
ANA MARIA
nunca escrevo poesias para as pessoas
pois as escrevo com elas e por elas
mas sem ser para as dar senão
como as flores nascem do chão
nas plantas que as dão
assim plantei este poema para ti!
(fazendo uma poesia à moda do Assim)
VIDRO INCOLOR
pequenas peças do meu corpo
sabes que gosto de flores!
envio letras...
são delas o perfume que me trás a pele do meu amor
mas penso que não nasce das plantas
mas sim do vidro incolor
Ana Mª Costa
no cabelo pintou madeixas de outono
e na boca o sangue das cerejas
trazia na pele o aroma das rosas
e uma lágrima verde a apodrecer
na lapela
Alice Sequeira
No húmus a lágrima cresce madrugada
e o Outono leva nas folhas a tinta do velho amor.
Compro lindas roupas, uns lábios novos e sacudo o verde da lapela
e das estações da pele na roda dos meus aromas
cresce no meu útero uma nova flor.
Ana Mª Costa
É sobre a tábua da tua imagem que a paisagem
Segura o horizonte cansado das tuas cores
na miragem do baço corpo em que mergulho água
limpo as recordações dos sorrisos oferecidos
como crianças em imaginação agarram o arco-íris.
Ana Mª Costa
recebi em pvc este mail:
Querida Ana. Como está indo? Espero que tudo esteja correndo bem para você. Olhe, quero lhe comunicar que fui o primeiro colocado num Concurso de Poesia no Estado onde resido. Cada candidato concorria com 10 poemas. Houve 80 candidatos. Estou lhe dando essa notícia, porque foi você que me incentivou a escrever poesia, já que sou ficcionista.
Um jinho do Francisco
Este é o poema vencedor:
DISCORDÂNCIA
Perdoe a ousadia de discordar de você,
alguém que na poesia anda de gatinhas.
E ama demais os versos
que o seu gênio de vozes múltiplas criou.
Mas, Fernando, não acho que o poeta seja um fingidor
Francisco Sobreira
Obrigado eu pelo carinho que me dás francisco!
Ana Mª Costa